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As Tranças de Bintou - Texto e PDF




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AS TRANÇAS DE BINTOU

Sylviane A. Diouf


Meu nome é Bintou, e meu sonho é ter tranças. Meu cabelo é curto e crespo. Meu cabelo é bobo e sem graça. Tudo que tenho são quatro birotes na cabeça.

Às vezes, sonho que passarinhos estão fazendo ninhos na minha cabeça. Seria um ótimo lugar para deixarem seus filhotes. Aí eles dormiriam sossegados e cantariam felizes. Mas na maioria das vezes eu sonho mesmo é com tranças. Longas tranças, enfeitadas com pedras coloridas e conchinhas.

Minha irmã, Fatou, usa tranças e é muito bonita. Quando ele me abraça, as miçangas das tranças roçam nas minhas bochechas. Ela me pergunta: “Bintou, por que está chorando?”. Eu digo: “Eu queria ser bonita como você”. “Meninas não usam tranças. Amanhã eu faço novos birotes no seu cabelo”. Eu sempre acabo em birotes.

Nesta manhã, vovó Soukeye está vindo nos visitar para o batizado de meu irmão, que hoje completa oito dias. Mamãe me pediu para ir busca-la. E aqui está ela, com seu lindo vestido azul.

Vovó Soukeye sabe de tudo. É o que mamãe sempre diz. Ela me explicou que os mais velhos sabem mais porque viveram mais, e por isso aprenderam mais. E, já que a vovó sabe tudo, eu lhe pergunto por que meninas não podem usar tranças.

“Há muito tempo, existiu uma menina chamada Coumbra que só pensava no quanto era bonita”, vovó diz enquanto afaga minha cabeça. “Todos a invejavam, e ela foi se tornando uma menina vaidosa e egoísta. Foi essa época, e por isso, que as mães decidiram que as crianças não usariam tranças, só birotes, porque assim elas ficariam mais interessadas em fazer amigos, brincar e aprender.”

Vovó me acaricia e diz: “Querida Bintou, quando for mais velha, você terá bastante tempo para a vaidade e para mostrar a todos a bela mulher que você será. Mas agora, querida, você ainda é apenas uma criança. Poderá usar tranças no momento adequado”.

Nessa noite, sonho que sou mais velha, que tenho dezesseis anos e uso tranças com conchinhas e pedras coloridas. Quando balanço a cabeça , o sol me segue, e eu bilho como uma rainha.
Quand o acordo, me olho no espelho. Ainda sou a Bintou com quatro birotes na cabeça.

Hoje nosso jardim está cheio de gente, todos trajados com suas melhores roupas. Antes da festa começar, tia Safi raspou a cabeça do meu irmão para apresentá-lo a todos. Papai e mamãe sussurraram ara Serigne Mansour – que, por ser o mais velho, liderou o ritual – O nome que havia escolhido para meu irmão. Após fazer uma reza breve no ouvido do bebê, ele anunciou a todos: “O nome da criança é Abdou”.

Agora, podemos comer e nos divertir. Peixe, arroz, carneiro, um pouco de tudo Experimentando o bolinho de peixe com molho apimentado, que queima minha lingua. Como só bolinhos fritos açucarados e papaias.

Observo as mulheres por trás da mangueira. Faltou, minha irmã, está junto com elas. Faltou passou um óleo perfurmado em seus cabelo que os faz brilhar e que ajuda a trança-los apertados.

As amigas da mamãe usam a franja trançada, com moedas de ouro na ponta. Dizem que isso e para mostrar a nós, crianças, como nossos tataravós, que nunca conhecemos, penteavam o cabelo.

As tranças da tia Ainda levaram três dias para ser feitas. São tantas que nem Maty, minha irmã mais velha, conseguiu contá-las.

Mariama, que estuda na cidade, e sua amiga têm tranças tão longas que chegam na cintura.

A amiga dela não é daqui, eu deduzo por seu sotaque. Quando lhe ofereço papaia, ela diz: “Eu me chamo Teresa, e sou brasileira”. Eu lhe perguntei se as garotas brasileiras usavam tranças. “Muitas usam, e põem prendedores coloridos em cada uma.” As brasileiras devem ser lindas...

A mulher sorri e balanças suas tranças. As miçangas soam como a chuva. E tudo que tenho são quatro birotes sobre a minha cabeça. É triste.

Ando pela praia, como sempre faço, quando quero ficar só. O lugar é muito sossegado. Escuto apenas o barulho das ondas, o vento nas palmeiras e os pássaros. E depois, ouço gritos. Quando olho, vejo dois garotos acenando e gritando, pois a canoa deles está afundando. Eu tenho de encontrar os pescadores rápido, muito rápido.

O caminho até a vila é largo e planto. Mas irei mais rápido se seu pegar um atalho através da mata. Ninguém usa esse atalho porque as plantas são espinhosas e as pedras, pontiagudas. Eu corro e pulo os mais ligeiro que posso.

“Bouba e Yaya estão se afogano!”, grito ao chegar.

Os pescadores correm para a praia levando uma canoa. Eles remam rápido, muito rápido, e jogam uma corda para salvar os meninos.

Na vila, todos me rodeiam: tia Alimatou, a mãe de Bouba e de Yaya, traz biscoitos para mim. Mamãe me diz: “Você é uma menina corajosa. Se tivesse escolhido o caminho mais fácil teria chegado tarde. Você salvou esses meninos. Por isso vamos lhe darum prêmio, Diga-nos o que você mais deseja”.

Antes que eu possa falar, Fatou diz: “Ela sonha com tranças”. Mamãe acaricia meu cabelo, do qua só restavam dois dos birotes. Os laços que prendiam os outros dois se soltaram enquanto eu corria pela mata.  “Então você terá suas tranças.”

Nessa noite, sonho que uso tranças e que o sol me segue. Vejo uma menina sentada no alto de uma árvore. Passarinhos amarelos e azuis se aninham em seu cabelo. O cabelo dela é tão bonito que todos se juntam deibaixo da árvore e lhe sorriem. O sol para de me seguir e bilha nas penas dos pássaros e no belo cabelo onde eles se aninham.

De manhã, vovó Soukeye me chama em seu quarto. Ela me diz para sentar no chão, entre suas pernas. Elas passa um óleo perfumado em meu cabelo. “Você é uma menina muito especial”, sussura. “Seu cabelo será tão especil quanto você.” Eu conto a ela que tia Awa estava vindo para fazer tranças no meu cabelo. Mas ela diz; “Quieta”. Sinto seus dedos rápidos e rasteiros, parece que ela está fazendo birotes. Quando ela termina, não tenho coragem de olhar para o espelho que ela segura à minha frente.

Vovó pede: “Abra seus olhos, querida Bintou”. É quando vejo pássaros amarelos e azuis em meu cabelo. Foi-se a menina sem graça com quatro birotes na cabeça. No espelho, aparece uma garota com um lindo cabelo olhando para mim.

Eu sou Bintou. Meu cabelo é negro e brilhante. Meu cabelo é macio e bonito. Eu sou a menina dos pássaros no cabelo. O sol me segue, e estou muito feliz.








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